segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tuas Horas Noturnas



No leito de tuas horas noturnas entrego-me a estranha inquietude que habitas em teu castelo.

E por de trás de tuas muralhas escorrem pelas pedras o sangue viscoso de minhas unhas nelas cravadas.

Arranque a espada das minhas costas e lamba o sangue nela contido.
Agora cuspa em minha cara e crave-a novamente em mim.

Só que agora pela frente, no peito, do lado esquerdo, para que a dor da covardia não corroa os teus dentes e nem perfure os teus pulmões.
E só assim nos libertará da amarga crueldade em que nos colocamos.

Escuta tua voz que cala na hora exata.

Escuta o gemido que ecoa dentro de tuas vísceras.

A hora perdoa.

11 de janeiro de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Há de Vir


Tento, tento, em vão
Explicar o que sinto ao pensar em nós
Naquela tarde que ardia
Olhava pra você e não me via
Eu não sorria e você..
Você não entendia
“Há de vir. “
E houve...
Houve também quem chorasse
Sem explicação
Sem prévia notificação
E veio
Veio arrebatando tudo
Tirando tudo do lugar
Tirando-me do altar
E fazendo-me mortal
Transformando em luto
Meu grande ser imoral

Oh, que bela luz ilumina o meu caminhar..
Onde ontem era apenas escuro
Hoje juro não mais chorar
Fez-se de repente em mim
Uma estrela nova à brilhar
Minhas falsas esquivanças
Tais subterfúgios
Não habitam mais em meu penar
Nem sequer se fazem presente aqui
Fugiram de mim, rumo a outro lugar.

À aquela pungente dor que me acometera
A aquele terrível sofrimento que encobriu a minha alma
Devo todo o esplendor sentido diante do novo agora
Onde as pétalas de rosas voam encobrindo o meu corpo
Tirando e levando toda mácula embora
Toda? Gostaria mesmo de acreditar
E não mais me perguntar
Sobre o que sinto, sobre o que lembro
Sobre todo o esforço que faço para não pensar

E todo aquele imenso vazio
Em que eu me aprofundava a cada lembrança
A cada pensamento
Me fazia morrer de frio e me tirava a esperança
Esse vazio não me preenche mais
Não se banha mais de mim
Não naufraga mais em minhas doces e correntes águas

Vazio inescrupuloso!
Seu cálice agora transborda de tua própria existência.
Beba, beba todo o seu excreto
Desta tua água, agora, eu que não beberei mais.


Tudo isso que senti
Nada escrevi
Toda a dor, todo o horror
Não foi transcrito
Nada foi registrado
Ficou tudo acumulado
Apenas agora, só agora
Mando toda dor embora
E fico totalmente encoberta
Pelo prazer na nova aurora

E não me venha falar das suas dores
Muito menos dos seus amores
Quero que todos se calem diante de mim
Que não digam sequer uma palavra
Que não se dirijam a mim de forma alguma
Que nem me olhem e que nem me vejam
Quero entrar em mim mesma
E fazer daqui a minha morada
E que onde quer que eu esteja
Aqui estarei sempre acesa e coroada.


13/01/2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Meras Palavras




E essas minhas meras palavras
Que vão de encontro a tudo que falo
Agora saem de mim como lágrimas
E toda essa questão a que me detenho
Exprime hoje meu viver.

As pequenas e brilhantes criaturas
Que apropriam-se de meus esquisitos gens..
Transformam tudo que há em mim.

Não quero comer!
Não quero beber!
Não quero respirar!
Não quero olhar!

Não quero nada de fora pra dentro.

Quero falar!
Quero suar!
Quero cuspir!
Quero vomitar!

Quero tudo de dentro pra fora transformar.

10-2008

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Morta Viva




Existia como naquele velho dia
Uma morta viva em apelos
Existia como naquela noite fria
Uma viva morta pendurada pelos cabelos

Sentada, olhando a face da morte
Tive a certeza de onde ela estava
Estava atrás de mim e de todos
Porém a mim ela não achava

Buscava-me farejando meus excessos
Percorria minhas ruínas e nada encontrava
Foi incrível vê-la perdida
Alí, era a morte quem chorava.

17/07/2009